por Frederico de Barros Silva

Há uma infinitude verde que vai até o fim do horizonte e a partir daí se mescla com um amarelo queimado. Um entardecer poético, com feixes de sol confundindo a linha que divide sol e terra.

Absorto em meus pensamentos, a sensação é de que o tempo passa cada vez mais rápido, os segundos são como anos e eu logo não estarei mais aqui.

Eu sinto uma presença por trás das minhas costas, um vulto escuro que antevejo ao desviar o olhar para trás, mas antes mesmo de identificar quem é, volto os meus olhos para frente novamente, pois esse não é um jogo de adivinhação e você não é uma desconhecida para mim. Eu sinto e conheço a sua presença. Esse é o nosso lugar de encontro combinado.

Você se aproxima de mim e aquela sombra vai dando lugar a uma silhueta pequena. Seus dedos passam pelo vinco da madeira, eu consigo sentir agora o aroma do seu perfume e fecho os olhos ao sentir o seu beijo.

O teu nariz toca na minha pele antes do encontro entre os nossos lábios e eu ouço de ti um tímido e melancólico “eu te amo”. Eu respondo a ti, sem desviar o olhar para o horizonte. Não temos muito tempo, eu digo. Eu sei, o tempo passa rápido, tu respondes.

Logo tudo isso vai se esvair, mas eu aproveito cada momento, com um sorriso de canto, olhando você, que hoje parece triste. Eu encosto meu rosto no seu e lhe pergunto, o que foi? Eu gostaria que a gente tivesse mais tempo, ao qual sou respondido por você.

Quando olho para você e vou consolar a tua tristeza sou acordado de forma abrupta, com um susto.

Pelo jeito que o Nego olha para mim eu deveria estar agitado. O médico disse que é normal após um Estresse Pós-Traumático.

“Você pode enfrentar pesadelos, visões distorcidas, desassociação, depressão, melancolia. Se eu fosse o senhor, iria nesse psicanalista que deve lhe indicar uma medicação para isso. Ah, e também tem tremores, sim. Cuidado para que isso não vire algo rotineiro. Enfim, veja com o médico, ele vai te indicar o caminho”, indicar o caminho, eu pensei.

Olho para a janela e só encontro escuridão, então eu presumo que ainda estejamos no meio da noite e eu cochilei enquanto estava sentado na poltrona.

 

Foto do autor Frederico de Barros Silva, jornalista, escritor e colaborador do blog Estante da Casa.

Frederico de Barros Silva é jornalista, escritor e político. Participou da coletânea de contos inspirados na obra de Chico Buarque 'Pra ver a banda passar - contando histórias de amor', publicado pela editora Metamorfose. Dias Perfeitos é a sua estreia na literatura.

Este é um trecho do conto que estará no livro Dias Perfeitos, coletânea de contos publicado pela editora Lumina, braço editorial da Editora Bestiário e será lançado no dia 6 de dezembro de 2025 na Domi Gastronomia às 17 horas, Rua Carlos Trein Filho, 670, Santa Cruz do Sul/RS.

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